quarta-feira, 17 de outubro de 2012

num segundo


que posso viver num centésimo de segundo? 

coração.coração. o tempo se mede nas batidas do relógio? cronômetro. uma batida numa absoluta indiferença à vida. batidas que dividem a vida em partes iguais. coração. coração. um tempo que se mede com as batidas do coração. qual o seu tempo? impreciso. dá saltos. tropeça. se agita. fica tranquilo. tem medo. não medo não! tem amor. tem vida. tem rotina. perdi as palavras pra dizer o tempo do coração. cronômetro é um tempo sem surpresas. a próxima música acontecerá no exato segundo previsto. coração. vive de surpresas. nunca sei quando a sua música vai soar. o cronômetro me diz com precisão esses numeros. mas o coração nada sabe. sabia, sem saber, que cronômetro não se mistura com o coração. cada um com seu signo e sentimento. coração entende vida. cronômetro entende espelho. olhei uma fotografia quase mocinha e compreendi que estava ficando velha. é só fazer as contas! quem sabe somar e multiplicar tem a chave do cronômetro. sentir saudade. é. velhice não se mede pelos numeros do cronômetro. ela se mede por saudade. a saudade cresce no corpo no lugar onde o cronômetro mordeu. um corpo mutilado. uma prótese que dói.  tudo é rio. tudo é água que flui. assim é tudo. assim é a vida. tempo que flui sem parar. tempo é criança? criança odeia cronômetro. tempo dever. corpo engaiolado. as crianças usam o tempo do prazer. corpo com asas. coração. quero eterno caso de amor com a vida. ponho-me a brincar com a vida. deixo de ser velha. sou criança de novo. tempo do prazer. 

que posso sentir num centésimo de segundo?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

com a permissão de Rubem Alves:

[...] quem presta atenção no que é dito não consegue escutar o essencial. O essencial se encontra fora das palavras. Ouvi-te e ouvi-a. Letra é coisa do consciente. Música é coisa do corpo, inconsciente. Quem diz a letra não percebe que está cantando. Não existe voz humana que não tenha música. A letra não tem importância.. não é nela que se encontra aquilo que importa escutar. Parem de falar, isso
 atrapalha a melodia. Esse é o absurdo segredo da escuta: é preciso não escutar o que se diz para se poder ouvir o que ficou não-dito, a música. É na música que mora a verdade daquele que fala. Por isso, se quiser ouvir bem.. esqueça o texto.. aprenda a sentir. A música. Todo corpo é uma melodia que se toca [...]





domingo, 16 de setembro de 2012

CARO

isso não estava nos planos
a desordem é tenaz
tantos laços
tantas amarras
os controles
as pretensões
nada adianta 
se o vento não soprar
o vento sob minhas asas
não mando mais em nada

sei que é alto
mas eu vou pular
onde?
nem os olhos podem ver
decidido

caro é transformar-se num arremedo de si próprio a ponto de nem se reconhecer mais

quinta-feira, 13 de setembro de 2012


de barro 
joão
de barro

entendo

seu desafio é andar sozinho
esperar o tempo no tempo
o destino
desafiar o amor
saia limpo
saia pássaro
saia
é
não olhe para trás
a ausência
é
o seu desafio
não olhe para trás
traz
a paz
olha
o tempo
espera
o destino
traz
um dia
um novo dia
traz nas asas
o seu amor
traz nas asas
tudo
porque tudo é
o que eu tenho.
é
o amor
ensina
e volta
traz de volta
ensina a menina
porque é tudo
que tenho
e guardo
ensina
guarda 
essa menina

porque tudo que tenho é o amor

entendo
agora
entendo

de barro
joão
de barro

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

ou meramente se perguntando
ou meramente esperando
esperando para ver se iria ou não
deixá-lo ou não sozinho de novo esperando por nada de novo

segunda-feira, 23 de julho de 2012

voar

eu
quero
um pássaro
passado a limpo
no meu caderno
um pássaro ávido
por cores e sons
um pássaro terno
claro e canoro
em mim
liberto
um
pássaro
poético
que perto de si
seja apenas pássaro
seja apenas
pássaro
seja apenas pássaro
seja
a
pena
pássaro
pássaro com penas
apenas
canário de fogo
de pássaro
apenas
mas pássaro que saiba
apenas
que dentro de mim
há uma gaiola
entreaberta
uma
janela
boquiaberta
além de uma casa
com a porta aberta
sempre pelo tempo
sempre
afora lá
fora
afora
lá fora


a voar
Nenhum conhecimento de onde saíra. Nem de como. Nem de quem. Nenhum de aonde chegara. Parcialmente chegara. Nem de como. Nem de quem. Nenhum de nada. Salvo obscuramente de ter voltado a si. Parcialmente a si. Com temor de ser de novo. Parcialmente de novo. Em algum lugar de novo. De algum modo de novo. Alguém de novo. Você volta. Eu vou. De novo. Novo.

Adiante.